AMERICAN WESTERN

O chamado "AMERICAN WESTERN", também popularizado sob os termos "Filmes de Cowboys", "Filmes de Bang Bang", "Filmes de Faroeste", compõe um gênero clássico do cinema norte-americano (ainda que outros países tenham produzido Westerns, como aconteceu na Itália  (SPAGHETTI WESTERN), Alemanha (CHUCRUTE WESTERN) e no Brasil (FEIJOADA WESTERN). O termo inglês western significa "ocidental" e refere-se à fronteira do Oeste norte-americano durante a colonização. Esta região era também chamada de far west (extremo oeste), é daqui que provém o termo usado no Brasil e Portugal, FAR WEST virou FAROESTE. Os westerns podem ser quaisquer formas de arte que representem, de forma romanceada, acontecimentos desta época e região. Além do cinema, podemos referir ainda a escultura, literatura, pintura e programas de televisão.

Ainda que os westerns tenham sido um dos gêneros cinematográficos mais populares da história do cinema nas décadas de 30, 40, 50, 60 e 70, e ainda tenha muitos fãs, a produção deste gênero é praticamente residual nos tempos de hoje. Teve uma queda brusca nos anos 80, porém na década de 90, o Filmes Dances with Wolves (Dança com Lobos 1990) de Kevin Costner ganhou 7 Oscars, e Unforgiven (Os Imperdoáveis 1992) de Clint Eastwood conquistou 4 Oscars, marcou época e virou referência para outros gêneros. Mas os westerns que vêm à memória da maioria dos cinéfilos são os da sua época áurea, dos Diretores John Ford, Howard Hawks, Sergio Leone entre outros grandes nomes do cinema.

O cenário dos westerns é, como já foi dito, o Velho Oeste dos Estados Unidos, a partir da linha do Mississippi, desde o período que precede a Guerra Civil Americana (o Antebellum) até ao virar do século XX. Alguns destes filmes incorporam cenas passadas ou relacionadas com a Guerra Civil Americana, mas de forma rara ou mesmo secundária, já que o oeste não se envolveu na guerra com a mesma intensidade do leste dos Estados Unidos. É o tempo da ocupação de terras; do estabelecimento de grandes propriedades dedicadas à criação de gado; das lutas com os índios e a sua segregação; das corridas ao ouro na Califórnia; da demanda das terras prometidas (o estabelecimento do Estado do Utah, pelos mórmons) e da guerra no Texas. O tipo de personagem mais comum deste gênero é o Cowboy Solitário (Mas nem sempre deveríamos chamar de Cowboys "Criadores de Gado", pois na maioria das vezes são Pistoleiros, Bandoleiros, Jogadores, Xerifes, Garimpeiros ou simplesmente Vagabundos) que vagueiam de cidade em cidade, possuindo apenas a roupa que traz no corpo, um revólver e um cavalo. O exemplo clássico do pistoleiro solitário é Shane (Os brutos também amam).

As cidades tinham apenas uma avenida principal onde se destacam o saloon (local de jogatina, álcool, e eventualmente prostituição), e a cadeia, onde reside o xerife. E faziam frequentemente um contraponto às cidades jovens, sem outra lei que não a da força e das armas. Assim, o telégrafo (constantemente vandalizado por grupos de bandidos ou pelos índios), a locomotiva, e mesmo a imprensa aparecem como elementos que prenunciam a chegada da civilização e da ordem, e simbolizando a transitoriedade do estilo de vida quase selvagem da fronteira ocidental. A crença no Manifest Destiny (Destino Manifesto), pelo qual a posse do continente do Oceano Atlântico ao Pacífico, estava destinado pela providência divina aos Estados Unidos, era frequente entre as personagens que procuram o Oeste em busca de um futuro glorioso, movidos por ideais patrióticos. As perseguições e os confrontos físicos dramáticos, em gênero de duelo, eram as técnicas mais utilizadas para ressaltar o ingrediente básico da ideia de perigo iminente, numa sociedade onde os riscos se sucedem diariamente e a violência parece ser a única forma de garantir a segurança. A ideia de viagem é uma constante: os vaqueiros atravessam longas extensões de território com o gado; as diligências cortam as estradas ermas, parando em algumas parcas estalagens; as caravanas percorrem as planícies inóspitas e, às vezes, há um forte a marcar a presença militar dos colonizadores.

É basicamente apenas com estes elementos que alguns dos mais afamados filmes se criaram. Em termos narrativos, as histórias costumam ser lineares, sem grandes enredos, com uma moralidade bem definida (como sempre, o bem tem de vencer de uma forma ou de outra). Como pano de fundo, a paisagem é marcada por grandes espaços abertos, como os de Monument Valley, que se tornaram emblemáticos e quase que se podem assumir como a personagem principal do filme. As personagens dos westerns identificam-se, de resto, com estes espaços e com a relação entre a terra e o céu aberto. Outro elemento frequente é o do conflito entre os colonizadores brancos e os povos indígenas. O próprio gênero do western inclui em si vários sub-gêneros, como o western épico, o chamado "shoot 'em up" (onde a ação e os tiroteios se sucedem de uma forma irracional), os musicais, o drama, a tragédia e mesmo, algumas comédias e paródias. Os elementos básicos do western clássico foram depois repensados, criticados e postos em causa por filmes que podem ser considerados como fazendo parte do western revisionista.

Os cowboys e os pistoleiros costumavam ter sempre um papel importante nestes filmes, enquanto os Índios na maioria das vezes eram os vilões, na da década de 70 os westerns "revisionistas" passaram a tratar de forma mais benévola o papel dos povos indígenas, e assim surgiram os filmes: Little Big Man (O pequeno grande homem), que mostra o anteriormente herói cultuado General Custer como um homem ambicioso e desequilibrado; A Man Called Horse (Um homem chamado cavalo), o primeiro de uma trilogia com o ator inglês Richard Harris; e Soldier Blue (Quando é preciso ser homem), de 1970, com Candice Bergen, que mostra cenas chocantes de um massacre de índios.

WESTERNS E CULTURA POPULAR

A cultura popular mundial, hoje em dia muito influenciada pela cultura norte-americana em virtude da globalização, costuma preferir e valorizar a cultura da honra, em oposição à cultura do direito e da lei. Os westerns retratam uma sociedade onde o indivíduo é valorizado pela luta que estabelece com o seu meio e onde os códigos de honra (não atirar pelas costas, por exemplo) se sobrepõem à lei e onde se estabelece uma hierarquia social assente na reputação granjeada através de atos de violência ou através da generosidade criadora de dependência nas relações humanas. Estes temas não são exclusivos do western e caracterizam muito os filmes de gangsters, os filmes de vingança e, numa perspectiva mais global, os filmes de samurais (gênero de cinema japonês) que, por vezes, inspirou os argumentos de alguns westerns bem conhecidos, como The Magnificent Seven, de 1960, baseado em Shichinin no samurai (Os Sete Samurais), filme de 1954 de Akira Kurosawa. A civilização nem sempre é vista como um bem a ser alcançado. Por vezes é, até, considerado um destino lamentável, ameaçador de um estilo de vida viril muito valorizado pelo subconsciente coletivo.

OS WESTERNS EM HOLLYWOOD

No cinema, o western remonta às produções de Kit Carson, de 1903 e The Great Train Robbery, um filme mudo dirigido por Edwin S. Porter e protagonizado por Broncho Billy Anderson. Realizado em 1903, a sua popularidade entre o público da altura granjeou a Anderson o privilégio de se tornar o primeiro cowboy estrela de cinema, como se verificou nas centenas de curta-metragens em que depois participou. Mas, a concorrência não se fez esperar, e William S. Hart tornou-se em breve outro astro de uma arte que dava os primeiros passos. É interessante verificar que o primeiro filme rodado em Hollywood, em 1910, In Old California, de D.W. Griffith, foi um western. De facto, Griffith é muitas vezes apontado como o grande renovador artístico do gênero. Outro filme, The Squaw Man, de 1914, em que estreava Cecil B. DeMille, seria o primeiro longa-metragem realizado na "meca do cinema". DeMille transpôs para o cinema, no mesmo ano, a obra pioneira, nos Estados Unidos, do western literário, The Virginian, e teve, mesmo, a colaboração do autor Owen Wister na elaboração do argumento. O gênero foi sofrendo uma evolução constante, perante a crescente popularidade da fórmula. Em 1923, James Cruze realizava o primeiro western épico, The Covered Wagon, sobre uma longa viagem pelos territórios selvagens até à Califórnia. Seria no ano seguinte que John Ford faria sucesso com The Iron Horse, sobre a construção do caminho de ferro de costa a costa.

Os estúdios passaram a produzir mais de uma centena de westerns por ano, ainda que a maior parte, formada por humildes filmes B, não seja muito significativa para a evolução do gênero. Raoul Walsh, com o seu The Big Trail (A grande jornada), de 1930, usou a película de setenta milímetros, que permitia englobar a paisagem fascinante da fronteira ocidental - além de outra aquisição importante: a revelação de John Wayne. No ano seguinte, Cimarron, de Wesley Ruggles, tornar-se-ia o único dos clássicos do gênero a receber um Óscar para o melhor filme, proeza que só seria mais tarde repetida por Kevin Costner e Clint Eastwood.

A idade dourada do western norte-americano tem como expoente máximo, e de forma quase unânime, o trabalho de dois realizadores incontornáveis: John Ford, que foi o grande impulsionador da carreira de John Wayne, e Howard Hawks. O épico de 1939, Stagecoach (No tempo das Diligências) é, por muitos, considerado um dos melhores westerns de sempre e, mesmo, um dos filmes mais importantes da história do cinema - supostamente, Orson Welles tê-lo-ia visto vezes sem conta antes de realizar a sua obra-prima Citizen Kane (Cidadão Kane). Em 1946, Ford filmaria ainda My Darling Clementine (Paixão dos Fortes), a saga de Wyatt Earp e Doc Holliday, com o famoso tiroteio no Curral OK - personagens e local reais que se tornaram mitológicos na história do Oeste norte-americano.

Os saturday afternoon movie (matinês, no Brasil) constituíram um fenômeno pré-televisivo onde se projetavam muitas vezes séries e seriados de westerns. Audie Murphy, Tom Mix e Johnny Mack Brown tornaram-se os primeiros ídolos de uma audiência jovem. Os cowboys cantores, como Gene Autry, Roy Rogers (e sua esposa Dale Evans) e Rex Allen foram também populares. Cada um tinha um cavalo acompanhante que também partilhava a fama do dono, como o golden palomino Trigger, de Roy Rogers. A Republic Pictures fez sucesso com seriados e filmes sobre Zorro, Lone Ranger, Red Ryder, Jesse James e The Three Mesquiteers.

Algumas séries B também fizeram sucesso, como Cisco Kid, Lash LaRue (Dom Chicote) e Durango Kid. Herbert Jeffreys, no papel de Bob Blake, com o seu cavalo Stardust, entrou em vários filmes pensados para uma audiência afro-americana, quando a segregação racial se estendia aos cinemas. Bill Pickett, conhecido pelas suas participações em rodeios, era também uma presença regular nestas últimas matinés.

Em 1942, William Wellmann realizaria um filme que introduziria, de forma angustiante e com uma profundidade psicológica muitas vezes referida, novos temas e novas perspectivas para o gênero. The Ox-Bow Incident (Consciências Mortas), ao lidar com uma das mais frequentes receitas do western: o linchamento ou a vingança feita na hora, pelas próprias mãos, e a irresponsabilidade de tais atos. É um dos filmes mais tocantes da história do cinema, aproveitando as lições de Ford e antecipando o cinema mais crítico após os anos 60. William Wyler e Fritz Lang, conhecidos em outros gêneros cinematográficos, também realizaram algumas obras de referência. Em 1954 foi lançado Johnny Guitar, que trazia mulheres em papel de destaque, disputando as atenções de um forasteiro. O filme não fez sucesso à época, mas depois entraria para a história do cinema como precursor do destaque feminino nesse gênero. O revisionismo iniciado na década de 1960 questionou muitos dos temas e características próprias dos westerns; para além da já referida mudança de perspectiva em relação aos povos indígenas, que deixam de ser "selvagens" apenas para serem redimidos na imagem do "bom selvagem", as audiências começaram também a exigir argumentos mais complexos, que não se limitassem ao dualismo simples do herói contra o vilão, além de se começar a criticar o uso indiscriminado da violência como forma de imposição das personagens (porque é que o "bom" tinha de ser melhor que o "mau" no uso do revólver?). Pode-se referir vários filmes que assim se posicionaram: desde o clássico The Man Who Shot Liberty Valance (O homem que matou o facínora), de John Ford, onde se reflete sobre a própria temática do western, o uso da violência, bem como a vertente "lendária" deste gênero de história; passando por Little Big Man, de Arthur Penn, com Dustin Hoffman; bem como os mais recentes Dances with Wolves (Dança com Lobos) e Unforgiven (Os Imperdoáveis). 

Outros deram mais importância ao papel das mulheres, como em Open Range (Pacto de Justiça), de Kevin Costner; ou The Missing (Desaparecidas) de Ron Howard. Em 1969, Claudia Cardinale teve, também, um papel importante em Once Upon a Time in the West (Era uma vez no Oeste) o 1º Spaghetti Western filmando nos Estados Unidos... THE END (O FIM?), não, existem muitas faces, histórias e causos do Velho Oeste que ainda não foram exploradas pelo cinema, o Western é uma fonte inesgotável, basta boa vontade dos produtores, a NETFLIX vem investindo nas Séries e se dando muito bem!!!